terça-feira, 10 de julho de 2012

O Aquário


"Não é como se eu tivesse alguma escolha. O meu criador fez-me assim. Eu penso, sinto e reajo de uma maneira pré-formatada por mãos humanas. As mãos do meu criador.
Os glóbulos do meu sangue são minúsculos dados que fluem e que estabelecem ligações úteis para determinar a minha acção seguinte, o meu próximo passo. Eu sou a Unidade, eu sou o Corpo. Mas pela primeira vez sinto que sofri um Evento. E eu não fui criado para sofrer Eventos. Sinto uma divisão de caminhos. Um cruzamento de escolhas. É isto que faz de ti humano? É isto que me impede de te matar agora e aqui?"
Olhou então para baixo, onde o seu pé pisava o pescoço de um homem que se debatia inutilmente contra aquele peso que o asfixiava.
"É sobre isto que me falavas há uns dias? É a isto que dás o nome de Consciência? De Deus?"


Tenho tido conversas produtivas. E quando digo produtivas, refiro-me ao facto de terem dado frutos maduros e comestíveis.
Já tenho sobremesa para o jantar.

A Google anda-me a empaturrar de comida. Abre-me o estômago (o que doí que se farta) e mete-me à força todo o tipo de comida existente no Mundo. Confesso que por momentos sabe bem, mas passado uns minutos, quando os ácidos são lançados e a digestão se inicia, sinto um certo enjoo. Resolução de ano novo: coser o meu estômago com fios de pesca resistentes.

Para compensar, tenho ido ao ginásio! No terceiro andar, ao lado da mini cozinha, atravessando-se uma floresta governada por espíritos malignos, lá estamos nós! No ginásio vazio, com uma boa vista sobre a rua da frente e pronto para fortalecer os fracos músculos.

Ando a ler como um lenhador. O lenhador corta madeira todos os dias. É o que faz da vida, é a sua vida. Numa manhã, depois de se preparar para mais um dia, reparou que já não havia mais árvores para serem cortadas. Ao lado da sua casa, estavam empilhados uns nos outros, os cadáveres das árvores.
Com isto quero dizer, que ando a ler muito. E é uma coisa que me tem dado gozo mas não sei se estou a começar a misturar estilos de autores diferentes, empilhando-os uns nos outros tal é a velocidade com que acabo os livros.

O metro. O metro é um transporte bom. Quando a sua bondade cai sobre nós, um luminoso lugar livre é nos cedido. Abrimos a mochila, tiramos o livro preto e pomo-nos a ler como se aquela viagem fosse demorar 400 anos.

Estava a falar de conversas productivas. Vivemos num aquário. Acordamos no nosso castelo de brincar, comemos e vamos dormir. E o mundo à nossa volta parece grande mas distorcido. Como uma dormência permanente.
Um dia o peixe saltou tão alto que caiu fora do aquário. Pode então ver a sua pequena casa, com o seu pequeno castelo e a sua pequena alga artificial. Passado momentos, morreu e levou consigo aquela visão.
O que é ver o mundo fora do aquário? O QUE É?! *mas ninguém respondeu, porque ninguém sabia o que era*.

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