terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Vou à China, já volto.
Ni hao! Depois de três semanas passadas na China, cá volto eu para a rotina inglesa, bebendo earl grey às 5h da tarde e usando a minha cartola impecavelmente apresentável.
Apanhei o avião para Pequim com o António e Jalles mas fomos todos em lugar separados, uns em segunda classe, outro na primeira (fiquemos por aqui). Apesar de estarmos cruelmente desconfortáveis, não conseguindo encontrar posição para dormir, gosto de viagens compridas e demoradas. O facto de estarmos em movimento, de um lado para o outro com mais uma quantidade enorme de pessoas, é como uma quebra relaxante para mim. Temos tempo para ler, ver filmes e uma desculpa para pensar, olhando o vazio da nossa mente, mergulhando lá dentro e saindo de lá com o maior peixe que já alguma vez vimos. Um peixe prateado e reluzente, sacudindo-se violentamente das nossas mãos para voltar para àquele lago escuro. Conclusão: na minha cabeça não existe um cérebro, mas um grande animal aquático e vertebrado.
Mas não me quero dispersar..
No primeiro dia em que eu e António nos aventurámos por Pequim, fomos quase aldrabados na praça de Tianament, onde um enorme retrato de Mao Tsé-Tung está pendurado à porta da cidade proibida. Fomos abordados por dois chineses que simpaticamente quiseram saber de onde vinhamos e bla bla bla. Por ingenuidade, lá continuei a conversar, fazendo perguntas sobre a história da China, até que eles nos sugeriram que fossemos a uma casa de chá, que ficava numa rua cheia de gente e com casas tipicamente chinesas (digo eu). A entrada da tal casa era estranha, e o chinês parecia que conhecia os lojistas. No momento em que nos íamos sentar, o António, que já andava desconfiado desde o começo, disse que nos tínhamos de ir embora e depois de eles quase implorarem que ficássemos, saltámos dali com a desculpa de que nos tínhamos de encontrar com um amigo. Até aí não tinha percebido que era um scam, mas quando cheguei a casa e pesquisei sobre as possíveis aldrabices na China, li sobre uma que se chamava "tea ceremony scam". Resumidamente, eles fazem conversa com estrangeiros, levamo-nos para uma casa de chá e depois, a conta vem com um número exorbitante. Se nos recusarmos a pagar, levamos uma carga de porrada (suponho). A desconfiança do António parece que nos salvou..
Nos dias seguintes, fomos a sítios tipicamente turísticos, como o Temple of Heaven, Summer Palace, Beijing National Stadium, os hutongs (bairros antigos chineses de Pequim), e a muitos muitos mais templos. Não achei a cidade especialmente bonita (e a poluição e as constantes cuspidelas para o chão não ajudam nada) mas o que é grande, é mesmo grande. As praças são gigantes, os templos são espantosamente construídos, cheios de detalhes e decorados com frescos, e os lagos congelados servem de ringue de patinagem para as pessoas se divertirem.
Foi também em Pequim que pela primeira vez me senti uma celebridade ou um famoso jogador de futebol! Perdi o número de vezes que chineses vieram ter connosco para tirar fotografias com eles. Ao princípio estranhei, porque não conhecia aquela gente de lado nenhum, mas depois comecei a ganhar o gosto e agora estou viciado. No Temple of Heaven, um enorme grupo de miúdos veio a correr ter connosco aos berros a pedir para que aparecêssemos na fotografia.
Também fui a Shanghai passar o ano novo chinês. Ficámos num hostel chamado "Captain Hostel", numa camarata com mais gente. Achei a cidade muito mais ocidentalizada que Pequim, com ruas bem iluminadas, grandes edifícios com inspiração art deco e um grande passeio que se estende ao lado do rio. Na noite da passagem de ano, fomos para a varanda do restaurante onde estávamos, para ver o fogo de artifício. Acho que nunca tinha visto um espectáculo destes tão perto. Os foguetes rebentavam literalmente em cima das nossas cabeças, fazendo com que levássemos restos do fogo nas nossas caras. Foi espectacular.
De volta a Pequim aproveitámos para ver o que ainda nos faltava, como a Muralha da China. Talvez por termos ir para a parte da muralha mais turística, o sítio estava a abarrotar de pessoas. A paisagem parecia tirada de um filme, com a muralha a serpentear por entre as montanhas e uma fina neblina ao longe que oferecia um certo ambiente místico à cena. Aviso: para se passear na montanha é preciso um bom par de coxas e muito vontade de ver o que vem mais para a frente. Às vezes o caminho era tão inclinado que só conseguia ver o rabo da pessoa que estava à minha frente. Como não fui à muralha da China para ver rabos alheios, usei toda a minha força pernal para escalar cada um dos caminhos que davam para as torres de vigia.
O Jalles vive em Pequim com uma amiga mexicana chamada Militza. Fomos muito bem recebidos pelos dois, e a casa era confortável até dizer chega. Bons sofás, grande televisão plasma, e uma grande cama. Ainda ficámos algumas noites a ver filmes, já que havia dois canais que só passavam os últimos hits cinematográficos. MAS CALMA, também fomos sair à noite obviamente... O patrão do Jalles, tinha sempre uma mesa na disco, onde podíamos beber champanhe e outras bebidas à vontade, rodeados de belas modelos asiáticas (algumas vá).
Quanto à comida, não, não cheguei a comer escorpiões ou gafanhotos, mas não me importo já que comi noodles até me fartar. Literalmente comi isto todo o santo dia e confesso que no último já estava a ficar enjoado de tanta massa. De qualquer maneira, comi sempre muito bem, experimentando diferentes pratos nos restaurantes e também tendo saboreado com prazer e água na boca o famoso pato à Pequim. Um suculento e depenado pato, enrolado em finas panquecas com verduras e molhos a acompanhar.
Lingua, oh shit. É complicada. Cheia de tons diferentes e palavras que não são nada familiares com as línguas latinas, o mandarin é lixado com uma lixa bem lixada. No entando, o Jalles e todos os seus amigos são prova viva de que se aprende bem e se pode ser fluente em chinês.
Ainda me aventurei, comprando bilhetes de metro e pedindo comida nos restaurantes (uma vez pedi duas Colas e trouxeram-me duas panquecas..). A expressão que mais usámos foi "bu yao", que quer dizer "não quero" e que nos serviu para afugentar os vendedores que podiam ser um bocado chatos.
Mais uma viagem para a lista e mais uma experiência de que vou sentir falta. Faz-me bem de vez em quando voar para o outro lado do mundo, relaxar e ser um turista no verdadeiro sentido da palavra (qual é o outro sentido, perguntam vocês? Não sei). Agora de volta, tenho de me concentrar em encontrar casa e trabalho. Amanha tenho uma quick chat na Unruly. Vamos ver o que sairá dali..!
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"A desconfiança do António parece que nos salvou.." clássico!
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