sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Alquimista


"E quando se vai, não se quer voltar", disse o velho alisando a sua longa barba, "porque o deserto está cheio de miragens, demónios e visões que nos tentam e nos prendem para sempre nas suas dunas".
O rapaz ficou por momentos em silêncio, não tirando os olhos da barba do homem e por fim disse "Por mais que me tentem, a minha vontade não pode ser quebrada".
"E qual é a tua vontade?", perguntou o outro.
Mas o rapaz não sabia. Apenas confiava na força que o impelia a seguir em frente, atravessando as areias e morrendo para renascer do outro lado.


Ir a Portugal é sempre uma ressaca. Uma ressaca da vida londrina e da rotina de trabalho. Da chuva e das multidões apressadas.
Mas calma, Londres acolheu-me bem e trata-me como se seu filho fosse. Deu-me casa, pão e dinheiro. Não me posso queixar.
Mas chegar a Lisboa em sol, em luz, em mar sabe bem. As bifanas que correm de um lado para o outro, saltando para dentro de bocas pouco atentas, as casas velhas mas dignas, as pedras que adoram ser pisadas, as vistas sem fim. E cada vez que lá vou aprendo a dar mais valor à minha cidade natal, a perceber a sorte que tenho (e que todos os lisboetas têm) de viver numa cidade assim, tão rica em história e nostalgia.

Mas talvez seja por estar longe que penso assim.
Talvez se voltasse a viver em Lisboa, também me aborreceria com a rotina e desejaria viajar perdido no espaço.
Humano nunca satisfeito.

Vamos lá. Fazer pela vida e aproveitar isto ao máximo. Perseguir a minha "lenda pessoal" tal como fez o Alquimista.

3 comentários:

  1. Como sempre, está bem escrito, pensado, estruturado e imaginado.Devias pensar sériamente em escrever um livro...especialmente em inglês.
    Tenta.
    Abr. Pai

    ResponderEliminar
  2. meu querido que bem escrito!!! posso por no fb? é que está mesmo bem escrito, bolas!!!

    ResponderEliminar
  3. A tua cidade também tem saudades tuas - as pedras, as bifanas, as casas e as gentes.
    Mas a tua cidade e todas essas coisas cá te esperam, para quando voltares, um dia. Nos entretantos, à aventura, jovem alquimista.
    um abraço apertadíssimo (já estou a ver que terei de repetir o kit de sobrevivência com mais uma dose de queijinhos e favaios!)

    ResponderEliminar